* Ecio Rodrigues
Economistas
com farta produção técnica e científica se esforçaram para conceber mecanismos
que exonerassem a sociedade de arcar com os custos relacionados às
externalidades negativas resultantes da instalação/operação de empreendimentos.
Abordada
por Alfred Marshal, a possibilidade de inclusão, nos custos dos empreendimentos,
do investimento na reparação dos danos incidentais decorrentes do processo
produtivo (leia-se: externalidades) foi estudada mais profundamente por seu discípulo
e sucessor na Universidade de Cambridge, o economista Arthur Cecil Pigou.
Em seu
artigo sobre a economia do bem-estar (“The Economics of Welfare”), Pigou
defende a taxação do empreendedor que cause externalidade negativa.
Por
outro lado e em igual medida, na visão do autor, todo empreendimento que traga
externalidade positiva para a população que vive no entorno deveria ser
incentivado por um subsídio estatal.
A
ideia-chave de Pigou pode ser resumida na diretriz “internalizar as
externalidades”, o que significa que os empreendimentos devem cobrir os
prejuízos sofridos por terceiros que, embora não envolvidos nas relações
contratuais estabelecidas por esses empreendimentos, sofrem os efeitos de seus impactos
negativos.
Afinal,
nada mais injusto para a sociedade que assumir, por exemplo, os malefícios
decorrentes da prática da queimada na Amazônia – uma vez que os produtores
rurais queimam por decisão de investimento, no intuito ampliar a produção e,
por conseguinte, aumentar os lucros.
O
exemplo das queimadas é bastante ilustrativo, pois os danos causados às
populações urbanas (que recebem a externalidade da fumaça) são bem superiores
ao somatório dos ganhos individuais dos criadores de gado (que causam a
externalidade). Ou seja, o prejuízo é visivelmente maior que o ganho para a
economia local.
O
estudo acerca das externalidades é um dos focos da vasta obra de Pigou – numa
época em que os benefícios e prejuízos indiretos de determinada atividade
econômica chamavam a atenção da sociedade.
Sempre
haverá externalidade, afirma Pigou, quando um agente econômico, ao transacionar
com outro agente, causa incidentalmente – vale dizer, independentemente de sua
vontade – um benefício ou prejuízo a terceiro não envolvido diretamente naquela
transação.
Examinando
uma série de exemplos, Pigou demonstra que é sempre muito difícil, para o terceiro
atingido, cobrar os prejuízos incidentais de um empreendimento. Ou,
inversamente, é muito difícil cobrar dos terceiros os benefícios por eles auferidos.
Referindo-se
aos serviços prestados por faróis de auxílio à navegação costeira, dispersos pelo
planeta ao longo dos litorais, Pigou constata que o auxílio de um farol bem
localizado pode ser largamente aproveitado por “navios dos quais nenhum pedágio
será convenientemente arrecadado”.
Nesse
tipo de externalidade positiva, observa-se uma dificuldade técnica quase
insuperável, ao menos no final do século XIX, para quantificar e identificar os
beneficiários do serviço prestado pelo farol.
Outro
exemplo simples e de fácil compreensão diz respeito às luzes externas de uma
residência, que ao clarearem a entrada da casa também ajudam a iluminar a calçada
e a via pública.
Certamente
não é fácil orçar um valor para compensar o morador pela externalidade da
iluminação pública, da mesma maneira que é quase impossível cobrar de quem se
beneficia dessa externalidade, ao caminhar pela calçada numa noite escura.
Depois
de discutir as externalidades decorrentes da construção de uma rodovia, o autor
chega a exemplos mais complexos, como o custo de conservação de uma área de floresta,
que serve para purificar o ar de quem vive nas proximidades.
Para
Pigou, o proprietário da área de floresta deveria ser remunerado pelo serviço de
melhoria da qualidade do ar, da mesma forma que o dono de uma fábrica poluente
deveria ser tributado pela fumaça despejada no céu.
Aplicada
ao contexto da Amazônia, a brilhante tese de Pigou resultaria no seguinte
enunciado: todo produtor será taxado por queimar e será remunerado por conservar
áreas de floresta.
Mais
simples, impossível.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
Nenhum comentário:
Postar um comentário