Da crítica à
industrialização ao Acordo de Paris
* Ecio Rodrigues
Diversos autores, em especial a partir da década de
1950, se preocuparam em expor as externalidades decorrentes da industrialização
– modelo que, impulsionado pela energia fornecida pelo petróleo, estava em franca
expansão no mundo.
Esses autores se surpreenderam com o surgimento e a
força do movimento ecologista, então caracterizado por acentuado viés
sociológico, impregnado que era pelas denúncias relacionadas às precárias condições
de trabalho impostas nas fábricas.
Entre eles, o alemão Hans-Magnus Enzensberger, em seu
brilhante ensaio “Contribución a la Crítica de la Ecologia Política”, publicado
em 1976 pela Universidade Autônoma de Puebla, no México, delineia com clareza o
conflito que contrapõe a ótica sociológica à ambiental.
Para
Enzensberger, a ecologia passou por profunda mudança
conceitual desde sua definição pelo biólogo alemão Ernst Haeckel, em 1868, como
uma subdisciplina da zoologia – na medida em que deixa de meramente descrever a
relação de determinada espécie com seu meio ambiente para se preocupar com as
interdependências de todos os organismos em todos os ecossistemas.
A
ecologia adquire expressão pública surpreendente ao incluir o homem em seu
horizonte de pesquisa, ganhando complexidade – o que, por outro lado, tornaria as
conclusões dos ecologistas um tanto questionáveis.
Acontece
que essa complexidade, continua o autor, dificulta a definição de uma hipótese
central a ser demonstrada, em função da inclusão do elemento humano, por si só
imprevisível, e também porque a comprovação, ou não, de qualquer prognóstico
ecológico só pode ser aferida em um futuro nem sempre próximo.
Quando
os ecologistas, por exemplo, assumem como hipótese central o fato de que as
sociedades industriais produzem contradições que deverão levá-las à ruína num
determinado período de tempo, precisam apresentar as causas desta ruína, que, na
opinião de Enzensberger, se relacionam a oito fatores:
“1) a industrialização conduz a um aumento incontrolável
da população e de suas necessidades básicas; 2) o processo industrial é mantido
com energia não renovável que se esgotarão em um tempo calculável; 3) o
processo industrial se alimenta de matérias-primas não renováveis; 4) o
processo industrial requer uma quantidade de água impossível de ser atendida
pelo ciclo natural; 5) a produção agrícola é limitada pela extensão de terras
agriculturáveis e pelo teto de produtividade possível; 6) a capacidade de suporte
do meio reduz-se devido à contaminação generalizada do planeta; 7) a poluição
psíquica, apesar de ainda não estudada com rigor, eleva os níveis de stress da
população humana; e por último, 8) o limite estabelecido pela poluição térmica”.
Como
se pode notar, trata-se de uma série de causas, que de forma alguma podem ser
analisadas isoladamente, e que, quando combinadas, tornam a análise dos
ecologistas por demais complexa e de difícil aceitação.
Resumindo,
os ecologistas afirmam que a industrialização leva à ruína, porém não respondem
três perguntas básicas: (1) Qual o momento exato da catástrofe? (2) Qual o peso
relativo dos diversos fatores responsáveis pela catástrofe? e (3) Qual é
exatamente a dimensão da ruína ecológica?
Contudo,
diante do efeito impactante que a alegada ruína decorrente da industrialização causa
nos indivíduos, o movimento ambientalista se popularizou, adquirindo um
potencial político em ascensão, difícil de ser calculado.
Não
à toa, os Partidos Verdes, sob essa denominação ou outra semelhante, ao assumirem
a pauta política da defesa do Acordo de Paris e da adaptação às mudanças
climáticas, lograram obter expressivo avanço em toda a Europa.
De
acordo com especialistas em ciência política, a agenda relacionada à crise
ecológica resultante do aquecimento do planeta e consequentes alterações climáticas
tende a se tornar ponto de convergência para deflagrar a reação dos partidos
políticos de centro e de esquerda, que amargaram derrotas eleitorais
preocupantes na última década.
Segundo
argumentam, devido ao seu potencial de inserção na sociedade – e diante da
impossibilidade de os políticos de direita assimilarem (em sua retórica) a
demanda ecológica –, a bandeira do clima e da defesa do Acordo de Paris pode
representar a renovação política que a humanidade reivindica, tendo os verdes como
referência.
A
despeito das críticas aos ecologistas, a adesão ao Acordo de Paris por mais de
195 países não deixa dúvida: os verdes venceram.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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