* Ecio Rodrigues
Pesquisa
encomendada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), realizada em âmbito
nacional, indica um alto grau de preocupação dos brasileiros em relação à
agenda ambiental nacional, em especial no caso da Amazônia.
Levado
a cabo pelo Instituto FSB de Pesquisa, o levantamento contratado pela CNI foi
apresentado durante o Fórum Amazônia+21, evento virtual promovido pela
Federação das Indústrias de Rondônia, conjuntamente com a Prefeitura de Porto
Velho, entre 4 e 6 de novembro de 2020.
Como
asseverou a CNI, a pesquisa é reveladora quanto à percepção dos brasileiros em
torno do desenvolvimento econômico da Amazônia.
De
pronto, é possível constatar que os resultados rechaçam a ideia da
intocabilidade da Amazônia – como defendem os ambientalistas mais ortodoxos, ditos
preservacionistas, que acreditam na utopia de uma floresta amazônica
supostamente despovoada e, por isso, protegida da ação humana.
Com
efeito, e segundo a pesquisa, para 95% dos brasileiros, o que beira à
unanimidade, é possível realizar a exploração sustentável dos ativos econômicos,
de modo a gerar emprego e renda permanentes na Amazônia e, ao mesmo tempo,
garantir a conservação da floresta.
Muito
embora a premissa pareça um tanto óbvia, o antagonismo entre preservacionismo X
conservacionismo contamina os órgãos que integram o Sisnama (Sistema Nacional
do Meio Ambiente), comprometendo, por vezes, o licenciamento ambiental, apenas para
ficar num dos temas mais polêmicos.
De
outra banda, mais de 80% dos brasileiros defendem a exploração da
biodiversidade florestal da Amazônia, na condição de rumo e modelo para a
economia regional.
A
Amazônia é motivo de orgulho nacional para 78% da população, enquanto 60% dos
brasileiros se assustam com a destruição do ecossistema florestal e consideram as
queimadas uma das maiores ameaças à sustentabilidade ambiental.
Corroborando
a exploração econômica sustentável da biodiversidade florestal amazônica, um contingente
igual aos que se orgulham da região – ou seja, 77% – defende que o país amplie
a quantidade de terras destinadas às unidades de conservação.
E,
finalmente, um percentual mais expressivo ainda, correspondente a 83% da
população, afirma que a manutenção da floresta amazônica é peça-chave para o desenvolvimento
econômico e melhoria da condição de vida no país.
Em
síntese, de uma rápida leitura dos resultados, a pesquisa da CNI demonstra
categoricamente que: (a) a grande maioria da população se preocupa com a agenda
ambiental nacional, sendo que a floresta amazônica está no centro dessa
preocupação; (b) existe amplo apoio popular à ampliação do Sistema Nacional de Unidades
de Conservação; e (c) os brasileiros são favoráveis à exploração da
biodiversidade florestal da Amazônia, na condição de referência para a economia
da região.
Sem
embargo, a transformação produtiva claramente demandada pela sociedade e captada
pela pesquisa da CNI está longe de se converter em decisão de política pública na
Amazônia.
Há
uma pedra no meio do caminho da transformação produtiva em direção ao uso
comercial da biodiversidade florestal – ou à dita bioeconomia, como querem os
planejadores do governo federal: a pecuária extensiva.
Para
enfrentar os pecuaristas, grandes e pequenos, e suprimir o crédito público subsidiado
a que têm acesso junto ao Basa/FNO, é necessária uma força política hoje
inexistente nos 9 estados amazônicos.
A
criação de boi em pastagens com baixíssima produtividade predomina em mais de
80% da floresta desmatada, e justamente em localidades em que a economia é mais
frágil, como no preocupante exemplo do Acre.
A
louvável iniciativa da CNI demonstrou, de maneira contundente, o que a
sociedade brasileira quer para o futuro da Amazônia.
Falta
transformar essa determinação em imperativo de política pública. Mas, chegar a
isso é um desafio que tem se mostrado insuperável.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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