* Ecio Rodrigues
A
adequação da produção rural da Amazônia às condições ecológicas da região, marcadas
pela predominância de floresta tropical, passou a ser prioridade para
investidores e financiadores, sobretudo os internacionais, no período pós-Rio
92.
Não à
toa, nos 10 anos seguintes à conferência foi realizado investimento público expressivo,
com participação ativa do Ministério do Meio Ambiente, por sua Secretaria da
Amazônia, no intuito de fazer introduzir, no sistema de financiamento gerido
pelo Banco da Amazônia, Basa, critérios relacionados à sustentabilidade – e, ao
mesmo tempo fazer assimilar esses critérios junto aos produtores.
Na
condição de principal operador dos recursos públicos disponibilizados por meio
do FNO, o Basa foi instado a se envolver em uma série de eventos que discutiram
o amoldamento de investimentos rurais ao ecossistema florestal da Amazônia.
Naquela
época, acreditava-se, com acerto, que seria necessário ampliar os financiamentos
a juros subsidiados do FNO destinados a custear alternativas produtivas baseadas
no aproveitamento comercial da biodiversidade florestal – já que, a despeito da
importância dessas atividades para a sustentabilidade, havia elevado risco para
o capital privado.
Mas,
mesmo sob juros subsidiados bem inferiores aos praticados no mercado, os
grandes proprietários rurais, de maneira geral, não se dispuseram a encarar a aventura
de mudar de atividade produtiva, ou seja, passar da predatória pecuária
extensiva para a exploração do potencial da biodiversidade florestal.
O risco
acabou sendo assumido por pequenos produtores, em especial os acostumados ao
modo extrativista de produção e às agruras da secular extração de borracha, que
se encontrava em fase de inexorável declínio.
Não obstante,
o advento das reservas extrativistas, principal legado do Acre para a Amazônia,
trouxe novas perspectivas para a produção florestal.
Se antes
a equação da sustentabilidade em relação à produção oriunda da biodiversidade
florestal estava zerada pelos dois lados – isto é, não se produzia porque não havia
mercado, e não havia mercado porque não existia produção perdurável –, as reservas
extrativistas passaram a garantir estoque de florestas, protegendo-as do acelerado
desmatamento que ocorria em seu entorno.
Pelo lado
da produção, que é o mais importante na equação da sustentabilidade produtiva,
ocorreram alguns avanços sensíveis, que tornaram a oferta anual estável para produtos
como castanha, açaí, madeira e copaíba, para citar os mais lucrativos.
Era o
momento de buscar o tal ecomercado.
Mas esse
passo se mostrou mais difícil do que se imaginava. Com efeito, embora
considerado em potencialidade, o mercado parecia muito distante e, de certa
forma, irreal – tanto em quantidade demandada quanto no complexo controle de
qualidade da matéria-prima extraída da biodiversidade.
Parece faltar,
ademais, uma superfície de contato entre o produtor que oferece um produto da
biodiversidade florestal e o comprador do ecomercado, que exige garantias de que
o processo produtivo não contribuiu para a destruição da floresta.
Para
viabilizar esse contato se faz necessária a atuação de profissionais que
facilitem as negociações entre o mercado (sempre objetivo e apressado) e o produtor
florestal (sempre pouco objetivo e sem pressa).
Esse agenciador,
que pode ser público ou privado, com ou sem fins lucrativos, contribuirá para a
superação do maior gargalo para a exploração da biodiversidade florestal: a
conquista de mercados consumidores permanentes.
À medida
que essa difícil equação for se equilibrando, de modo a satisfazer o produtor
florestal e o ecomercado, vai ser possível organizar arranjos produtivos ou
clusters, para usar os conceitos dos aglomerados econômicos, criando uma marca de
responsabilidade ecológica e, o melhor, promovendo a maior vantagem competitiva
da Amazônia, a biodiversidade florestal.
Lamentavelmente,
todavia, até agora a equação da sustentabilidade na produção da biodiversidade
florestal não avançou, e a insustentável pecuária extensiva continua a receber
parcela considerável do financiamento do Basa.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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