ONGs ajudam a
reduzir queimadas na Amazônia, governos nem sempre
* Ecio Rodrigues
Na
Amazônia, existe relação direta entre eleições e aumento do desmatamento e das
queimadas. Durante o período eleitoral, a taxa de desmatamento sobe e as
queimadas se acentuam – em especial quando as eleições são municipais, como as
que vão acontecer em 2020.
As
razões são, até certo ponto, óbvias. Não se vê, na região, candidato a prefeito
ou a governador com potencial eleitoral que não se posicione favoravelmente à ampliação
da produção rural, sob o pretexto de melhorar a qualidade de vida do produtor e
a dinâmica local da economia.
Veja
bem, esses políticos não apoiam, de forma objetiva, a produção de commodities
agrícolas em larga escala, quer dizer, o agronegócio exportador – atividade que,
por mais inusitado que pareça, pouco tem a ver com o desmatamento e a queimada
atualmente praticados na Amazônia.
Trata-se,
enfim, da defesa da pecuária extensiva e do agricultor familiar.
O
voto desse produtor, como se sabe, é incerto, e o candidato que dele depende quase
sempre fracassa. Todavia, é fato que, a despeito do duvidoso retorno eleitoral,
o agricultor familiar conta com o apoio incondicional de todos os candidatos ao
Executivo e ao Legislativo, em âmbito municipal e estadual.
O
paradoxo consiste no seguinte: ao externar seu respaldo à agricultura familiar,
o candidato busca, em verdade, o voto do eleitor urbano, que pouco entende de
produção rural e, o pior, não relaciona o apoio à agricultura familiar ao
aumento das queimadas – uma prática que ele abomina porque aflige sobretudo quem
mora na cidade.
Mas
esse eleitor enxerga a tal agricultura familiar sob um olhar romântico. Não
percebe que os pequenos e médios produtores se dedicam prioritariamente à
criação de gado e, por conseguinte, são hoje os maiores responsáveis pelo
aumento do desmatamento e das queimadas.
Esse
contexto político não é de agora – persiste há mais de 3 décadas. Os governos estaduais
e municipais se revezam, desde o final da década de 1980, quando retornaram as
eleições diretas, nesse eterno paradoxo, conferindo incentivo eleitoreiro ao
aumento da produção agropecuária, ao mesmo tempo que defendem o controle do
desmatamento e das queimadas.
No
frigir dos ovos, diante da paralisia decisória dos governantes, as ONGs
surgiram como agentes prioritários de execução de projetos dedicados à
conscientização e qualificação do produtor na aplicação de práticas
alternativas, que inibem o desmatamento e prescindem das queimadas.
Não
à toa, parte considerável dos recursos oriundos da cooperação internacional,
doados pelos países que se preocupam com a conservação da floresta na Amazônia,
é destinada a programas desenvolvidos por ONGs.
Talvez
o melhor exemplo disso esteja exatamente no Fundo Amazônia, que o governo, por
incompetência sem precedentes, insiste em sabotar.
Parcela
vultosa do dinheiro ofertado por Noruega e Alemanha custeou ações voltadas para
reduzir as extensões de floresta que anualmente são desmatadas e queimadas na
Amazônia.
Diante
de sua importante atuação, as ONGs gozam de reconhecimento mundial, obtendo suporte
financeiro de fontes diversas e variadas.
Além
de agências ecumênicas, fundações de empresas multinacionais etc., também as
sociedades de alguns países se incluem entre esses financiadores.
Esse
é o caso da sociedade brasileira, que, notadamente por meio do orçamento da
União, sempre apoiou o trabalho levado a cabo pelas ONGs na Amazônia.
Agora,
ao que tudo indica, isso pode mudar.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília.
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