Ecologistas e a política
* Ecio Rodrigues
Diante
da crise ecológica decorrente das mudanças climáticas e, em especial, após a
assinatura do Acordo de Paris, cresce na Europa a importância política dos
movimentos ecológicos – reunidos, a maior parte, nos partidos verdes.
A
dimensão política assumida pelos ecologistas não é novidade. Alguns autores
previram essa popularização com entusiasmo, e outros, com duras críticas.
Entre
os críticos, as palavras de Hans-Magnus Enzensberger,
publicadas em 1976, parecem
bem atuais.
Segundo
Enzensberger, o movimento
ecologista é integrado por grupos diversos. Alguns deles com interesse político
menos visível – os indivíduos preocupados com as plantas, os bichos, que incentivam
a organização de mutirões para limpeza de praias e que, de maneira geral, são
tão ingênuos que parecem até suspeitos.
No
entanto, o visionário Enzensberger enfatiza que “a estupidez dessas iniciativas não deve
criar dúvidas de que nelas pode estar oculto o germe de possíveis movimentos de
massas”.
Continuando,
o autor alerta ainda para existência de outro grupo, formado por descendentes
do movimento hippie dos anos 70,
geralmente dissidentes do protestantismo norte-americano, que ideologicamente
tendem ao sectarismo, vivendo em comunidades alternativas que produzem sua
própria comida, negando o aparato industrializado e optando por um ambiente natural.
Em
que pese a suposta “pureza” desses grupos, alega o autor, não existe
neutralidade social na argumentação ecológica. As condições de trabalho nas empresas
europeias, no início da Revolução Industrial, evidenciam o caráter classista
das questões ecológicas, uma vez que os pobres receberam a maior carga do
impacto ambiental causado pelo processo industrial.
Por
sinal, assevera Enzensberger, o impacto ambiental
do industrialismo só foi alçado à categoria de risco planetário quando alcançou
a classe média. O problema não era a insalubridade do chão da fábrica que
atingia os mais pobres, mas sua alarmante generalização para outras classes
sociais localizadas acima na pirâmide.
Finalmente,
há que se considerar ainda a capitulação desses grupos de ativismo ecológico
por grandes indústrias, enfatiza o autor. Trata-se, na verdade, de simulação
dos empresários para demonstrar sensibilidade ambiental, quando estão
interessados em, mais uma vez, que o Estado assuma os custos sociais da
recuperação dos danos decorrentes de sua atividade econômica.
Para
convencer, os industriais desenvolvem tecnologias de recuperação das áreas
degradadas por sua própria poluição, criando dois mercados, um para o produto
que sai das suas fábricas e outro para recuperar os danos ambientais do
processo de produção.
Nesse
momento, pseudoambientalistas industriais se unem aos ingênuos grupos de
cidadãos ativistas, financiando campanhas de sensibilização enquanto ampliam
sua capacidade de lucro.
Em síntese, Enzensberger considera a crise
ecológica um fenômeno oriundo da decadência da sociedade burguesa, que, para se
proteger, concebe esta decadência como sendo a decadência do planeta. Isto é, a
burguesia se arvora fiel protetora do que ela mesma destruiu.
Nesse
contexto, os partidos políticos ditos de esquerda, de maneira geral, têm
assumido o debate ecológico como uma crítica à ideologia capitalista, por meio da
máxima corriqueira de que “o capitalismo é o culpado”.
Entretanto,
o socialismo russo, por sua vez, reforça o autor, também foi, de forma
semelhante, agressivo e perdulário para com a natureza – e não logrou modificar
a relação de produção que o capitalismo engendrou.
Concluindo,
Enzensberger enfatiza que o colapso ecológico
se dará por meio de uma crescente escassez que agudizará a pobreza sem destruir
a riqueza. Isso trará processos conflituosos, que causarão a crise geral de abastecimento
– que, por seu turno, será o ponto central da tragédia ecológica.
A realidade,
em 2019, não deixa dúvidas: a crise ecológica é um fato, e a industrialização
baseada em petróleo sua principal causa. Os ecologistas acertaram.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília.
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