* Por Ecio Rodrigues
Associar
cores a temas importantes é uma estratégia empregada com sucesso para chamar a atenção
e mobilizar a opinião pública.
Quando
é iluminado com lâmpadas coloridas, o belíssimo palácio do Congresso Nacional,
em Brasília, se transforma em instrumento de sensibilização, alertando para temas
como enfrentamento da homofobia (cores do arco-íris, último 28 de junho);
prevenção do câncer de cabeça e pescoço (verde, em julho); ou, ainda,
importância da amamentação (cor dourada, agora, em agosto).
Essa
estratégia bem que poderia ser empregada no Acre – quem sabe ajudaria a
reverter os fracassos das ações governamentais para zerar as queimadas.
Quando
chega agosto, a população já espera pela fumaça maléfica que traz tantos
transtornos e permanece durante todo o mês, adentrando setembro. As queimadas
atingem o pico no feriado regional do dia 05 de setembro – oficialmente “Dia da
Amazônia”, mas considerado, pelo produtor, o dia da queimada.
Iluminar
o Palácio Rio Branco na cor cinza – já que as queimadas deixam cinza o céu do
Acre – seria uma sinalização de que o governo não vai mais tolerar a fumaça.
Por
sinal, a despeito dos prejuízos econômicos e sociais causados nos últimos 30
anos, nunca houve imposição de tolerância zero em relação às queimadas. Os
gestores públicos preferem se fazer de sonsos, como se a solução não fosse
simplesmente abolir o licenciamento desse método primitivo.
O
que se vê é sempre a defesa do procedimento como um “mal necessário” e, nesse
sentido, dois subterfúgios são empregados – com certo êxito, diga-se – para
convencer a população.
O
primeiro deles é a descontextualização da queimada.
No
intuito de desviar do problema real, vale dizer, as queimadas praticadas pelos
criadores de gado para reforma/ampliação de pastos, os órgãos ambientais se
voltam para as queimadas urbanas – como se houvesse o mínimo grau de
equivalência entre uma e outra.
Ou
seja, para não desafiar o peso político dos pecuaristas, fiscalizam-se
fogueiras e realizam-se campanhas orientando a população urbana a não incinerar
folhas e lixo nos quintais.
Comparar
queimada rural com queimada urbana é o mesmo que comparar desmatamento de
floresta com corte de árvores em jardins e logradouros. Ainda assim, escutamos
no rádio e lemos nos outdoors mensagens comoventes, sempre nos conclamando a
“fazer a nossa parte” e não queimar. Afinal, a culpa é sempre do povo, não é
mesmo?
O
segundo subterfúgio consiste em disseminar a equivocada ideia de que a queimada
é prática cultural e, o pior, imprescindível para alimentar o produtor. Sempre se
encontra um especialista de plantão para atestar esse absurdo.
De
todos, certamente o argumento em torno da suposta tradição das queimadas e de sua
importância para a subsistência do pequeno produtor é o mais intragável, diante
da absoluta ausência de fundamento – e de bom senso.
Mesmo
que essa alegação tivesse amparo em algum estudo sério acerca da tradição agrícola
no Acre ou na Amazônia (e não tem), os malefícios e prejuízos causados pelas
queimadas são suficientes a justificar o abandono da conduta, por mais
ancestral que seja.
Por
outro lado, nenhum produtor no Acre está sujeito a morrer de fome por ter sido
assentado no meio do mato, entregue à própria sorte, de modo que sua única opção
para escapar da inanição seja queimar.
A
fumaceira só alivia em outubro e tudo é esquecido em novembro, com a fartura
trazida pela estação das chuvas.
Até
que chega agosto do ano seguinte.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor
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