* Por Ecio Rodrigues
Acordo
inédito firmado entre a associação de produtores da Reserva Extrativista do Rio
Cautário e a empresa de investimentos em conservação florestal Permian Global vai
lograr alcançar o que, para muitos, é impossível: zerar o desmatamento.
Localizada
em Rondônia, na fronteira com a Bolívia, essa unidade de conservação estadual se
estende sobre o território dos municípios de Costa Marques e Guajará-mirim, integrando,
juntamente com mais de 50 áreas protegidas, o Corredor Ecológico Binacional Iténez-Guaporé.
Como
ocorre em praticamente todas as reservas extrativistas da Amazônia, a Resex do Rio
Cautário sofre pressão do desmatamento – tanto de fora para dentro da reserva quanto,
o mais preocupante, de dentro para fora.
Essa
distinção entre as dinâmicas assumidas pelo desmatamento é fundamental, pois as
medidas de combate são diferenciadas.
Para
proteger a reserva extrativista da destruição florestal que ocorre fora dela é necessário
o cumprimento de ações de fiscalização, seja por parte do órgão ambiental
federal, Ibama, seja por parte do respectivo órgão ambiental estadual.
Por
outro lado, o combate ao desmatamento que ocorre dentro do perímetro da reserva
configura desafio de complexa superação. Pode-se dizer que inexiste experiência
positiva nesse sentido na Amazônia.
Inexistia.
Certamente a iniciativa da resex do Rio Cautário vai alterar essa realidade.
O ajuste
foi efetuado por meio do mecanismo denominado REDD - Redução de Emissões por
Desmatamento e Degradação. Trata-se de um programa global, instituído em 1997
no âmbito do Protocolo de Quioto, que pressupõe a remuneração do produtor para o
manejo de áreas de florestas, com o objetivo de prestar o serviço ambiental de
retirada de carbono da atmosfera e assim contribuir para reduzir a temperatura
do planeta.
O
REDD possibilita que os países contabilizem o carbono imobilizado em seus
territórios na forma de biomassa florestal (leia-se: florestas), para efeito de
alcançar as metas estabelecidas perante o Acordo de Paris, tratado assinado em
2015 e considerado o mais abrangente pacto internacional destinado à mitigação
dos efeitos das mudanças climáticas.
O
arranjo financeiro para destinar ao produtor o dinheiro pago por uma empresa na
obtenção de créditos de carbono, a fim de garantir conservação da área de floresta
que vai mitigar os efeitos daquela produção industrial, sempre foi o calcanhar
de Aquiles para a consolidação do REDD.
O contrato
celebrado entre os produtores da resex do Rio Cautário e a empresa Global Prime
preenche com muita simplicidade essa lacuna que parecia insuperável.
Cada
família irá receber o equivalente a R$ 1.000,00 por mês, ou R$ 12.000,00 por
ano, para manejar uma área de floresta sob sua custódia.
Nem
vai desmatar, nem vai permitir que invasores desmatem sua floresta.
Botar
o dinheiro diretamente na mão do produtor é o grande diferencial do contrato
com a Global Prime. Algo que nunca aconteceu, por exemplo, nas experiências com
o REDD no Acre, um dos estados pioneiros nesse tipo de iniciativa, mas que
acumula uma extensa lista de fracassos.
Com
duração de 30 anos, o contrato também prevê o investimento de R$ 5.592.000,00
por ano na execução do plano de manejo da resex. Significa que, além do
pagamento individualizado às famílias, todos terão apoio, de forma coletiva,
para manejar a floresta e produzir castanha, cipós, copaíba e outros produtos
da floresta.
É o
capitalismo, estúpido!, resolvendo o que antes era improvável: zerar o desmatamento
na Amazônia – o ilegal e o legalizado.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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