Para
comemorar a nova década que está iniciando em 2020, e como forma de apresentar
uma mostra da realidade vivenciada entre 2010 e 2019 – no que respeita à
sustentabilidade da Amazônia –, foram selecionados e serão novamente postados,
neste blog, artigos considerados representativos, entre os 48 publicados
semanalmente, todos os anos, no site da Oscip Andiroba (http://www.andiroba.org.br/).
Dessa
forma, um total de 10 artigos, um para cada ano da década passada, serão
republicados, durante 10 semanas, a partir de 05 de janeiro.
Segue
o segundo artigo da série, publicado originalmente em 13/11/2011:
Amazônia e políticas florestais de segunda
geração
* Ecio Rodrigues
Na
Amazônia, a maioria dos estados possui um instrumento de política florestal,
geralmente instituído na forma de legislação. Ainda assim, a suposta ausência
de diretrizes públicas para o setor florestal é sempre apontada como a
principal causa das dificuldades observadas na produção madeireira.
A
sociedade, desse modo, continua cobrando dos agentes públicos e privados maior
atenção na exploração florestal, em especial no que se refere à extração de
madeira.
Ora,
se as políticas já foram, em tese, discutidas com a sociedade e aprovadas por
seus representantes, essa insatisfação social só pode ser creditada à falta de
ajustamento de tais diretrizes à realidade vivenciada no cotidiano da produção.
De
fato, as políticas florestais em vigor nos estados amazônicos, ditas de
primeira geração, foram concebidas há mais de 20 anos – quando a ilegalidade e
o primitivismo tecnológico imperavam no setor florestal. Atualmente, a situação
é muito diferente, sendo que mais de 90% da exploração madeireira é efetuada
por meio da tecnologia do manejo florestal.
A
despeito da existência de normas que regulam a atividade florestal, boa parte
da população segue acreditando que os procedimentos relacionados à
comercialização da madeira (que incluem derrubar árvores com o uso de
motosserras, efetuar o seu arraste pela floresta por meio de tratores do tipo skider, e transportar sobre treminhões
as toras para as áreas urbanas) ainda deixam para trás um rastro de destruição.
E se há destruição, a responsabilidade recairia sobre os empresários e, por
tabela, sobre os agentes públicos, que não estariam inibindo a atuação do
empresário destruidor.
No
âmbito da atividade madeireira, mais do que no de qualquer outra atividade
produtiva, é quase que corriqueira a ocorrência de situações que atraem certo
sensacionalismo: vez por outra, a imprensa traz alguma notícia que põe em
xeque, perante uma sociedade que sempre está com um “pé atrás”, a atividade
florestal e a eficácia das políticas públicas para o setor.
Ultimamente,
tem causado celeuma no Acre a publicação de uma série de matérias, umas com
evidente viés político-eleitoral, outras na forma de desprezíveis insinuações
panfletárias, questionando o projeto levado a efeito na Floresta Estadual do
Antimary – um dos mais importantes projetos de manejo florestal realizados na
Amazônia, e cuja concepção metodológica, inclusive, serviu de base técnica para
elaboração da política florestal local, aprovada pelos parlamentares estaduais
há quase 10 anos.
Não
deixa de ser sintomático o fato de se deturpar, de forma grosseira, uma
experiência tão significativa para o estado.
Duas
lições podem ser extraídas do episódio, que podem muito bem ser aplicadas ao
contexto amazônico.
1) Se
existe, em esfera local, aprovada e sancionada em lei, uma política pública
florestal que orienta a produção de madeira e a adoção da tecnologia do manejo
florestal, e ainda assim a população dá crédito a matérias sensacionalistas, é
possível que essa política, ao priorizar investimentos em empresas intensivas
em capital e tecnologia, esteja superada, devendo ser revista.
2)
Existe uma resistência generalizada e insuperável na sociedade, que faz com que
a exploração de madeira seja sempre contemplada como algo danoso,
independentemente da tecnologia empregada.
No
final das contas, seja em razão das deficiências presentes nas políticas
florestais em vigor, seja em vista da enraizada oposição social à exploração de
madeira, uma coisa é certa: é chegado o momento das políticas florestais de
segunda geração.
*
Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), engenheiro florestal,
especialista em
Manejo Florestal e mestre em Economia e Política Florestal
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
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