quinta-feira, 2 de janeiro de 2020



Em 2019, escalada do desmatamento afasta Amazônia da sustentabilidade
* Ecio Rodrigues
A contar de 1988, quando o Inpe começou a medir anualmente o desmatamento na Amazônia, 2012 foi o ano em que se apurou a menor área de floresta destruída – menos de 5.000 Km2. Desde então, houve um esforço para que esse limite não voltasse a ser ultrapassado.
Todavia, o feito daquele ano jamais se repetiu. E ainda que a taxa de desmatamento tenha apresentado certa oscilação a partir de 2012, pode-se dizer que a destruição florestal aumentou quase que continuamente, até disparar agora, em 2019, tendo atingido 9.762 km2 – um aumento de 29,5% em relação ao ano anterior e um recorde em valores absolutos para os últimos 10 anos.
Tanto o movimento ambientalista quanto pesquisadores, com base em dados levantados mês a mês por satélites, já vinham alertando para a tendência de alta – que acabou se confirmando, a despeito das reiteradas negativas do Ministério do Meio Ambiente, MMA.
Diante do atual contexto político, a preocupação da hora está relacionada à possibilidade de ocorrência de novos recordes extremos, como os observados em 1995 e 2004.
Acontece que a taxa de desmatamento medida em 2019 compreende o intervalo que vai de 01/08/2018 a 31/07/2019. Nesse período, o MMA passou de uma gestão bastante competente (5 meses de 2018) a outra inqualificável (7 meses de 2019).
Há pelo menos três evidências que comprovam a responsabilidade dos atuais gestores ambientais no que respeita à preocupante escalada assumida pela destruição florestal na Amazônia.                                                           
A primeira se refere ao questionamento e paralização do Fundo Amazônia, um crucial e reconhecido instrumento público de captação de recursos, vinculado ao próprio MMA, pelo qual o país arrecada doações internacionais destinadas ao controle do desmatamento.
A segunda alude à absurda campanha difamatória promovida pelo MMA contra ONGs ambientalistas, acusando essas organizações – que se dedicam a combater o desmatamento e a fomentar alternativas produtivas à pecuária – de conspirar para saquear e destruir a região.
Por fim, a terceira evidência – a mais grave, por sinal – remete à omissão, pura e simples.
Não foram poucas as ocasiões em que os gestores do MMA e o primeiro escalão governamental demonstraram cabal indiferença quanto ao problema do desmatamento na Amazônia.
Para o governo, a mazela ambiental da região se resume à ausência de saneamento básico. O controle do desmatamento, portanto, é agenda adstrita a países europeus, não configurando prioridade para o orçamento federal.
Postura semelhante foi adotada em relação às queimadas, em julho passado. Mas a repercussão negativa – que chegou mesmo a originar uma crise política – fez o Planalto recuar em suas retrógradas posições.
Entretanto, como desmatamento não faz fumaça e não chama a atenção, não há limites para a indolência e desfaçatez do governo. Argumentos que contrapõem o desmatamento ao progresso, coisa da década de 1970 e que há muito perdeu a validade, são repetidos descaradamente.
Por isso, é mais que legítima a preocupação em torno de uma ampliação recorde na destruição florestal em 2020. Alertas vêm sendo feitos, e as estatísticas preliminares não trazem boas notícias.
A esperança está na resposta dos países europeus que mantém relação comercial com o Brasil – que podem impor barreiras ao agronegócio tupiniquim.
No que depender do governo federal, a floresta amazônica será destruída.

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

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