Em 2019, escalada do desmatamento afasta Amazônia da sustentabilidade
* Ecio Rodrigues
A
contar de 1988, quando o Inpe começou a medir anualmente o desmatamento na
Amazônia, 2012 foi o ano em que se apurou a menor área de floresta destruída –
menos de 5.000 Km2. Desde então, houve um esforço para que esse
limite não voltasse a ser ultrapassado.
Todavia,
o feito daquele ano jamais se repetiu. E ainda que a taxa de desmatamento tenha
apresentado certa oscilação a partir de 2012, pode-se dizer que a destruição florestal
aumentou quase que continuamente, até disparar agora, em 2019, tendo atingido 9.762
km2 – um aumento de 29,5% em relação ao ano anterior e um recorde em
valores absolutos para os últimos 10 anos.
Tanto
o movimento ambientalista quanto pesquisadores, com base em dados levantados
mês a mês por satélites, já vinham alertando para a tendência de alta – que
acabou se confirmando, a despeito das reiteradas negativas do Ministério do
Meio Ambiente, MMA.
Diante
do atual contexto político, a preocupação da hora está relacionada à possibilidade
de ocorrência de novos recordes extremos, como os observados em 1995 e 2004.
Acontece
que a taxa de desmatamento medida em 2019 compreende o intervalo que vai de
01/08/2018 a 31/07/2019. Nesse período, o MMA passou de uma gestão bastante competente
(5 meses de 2018) a outra inqualificável (7 meses de 2019).
Há
pelo menos três evidências que comprovam a responsabilidade dos atuais gestores
ambientais no que respeita à preocupante escalada assumida pela destruição florestal
na Amazônia.
A
primeira se refere ao questionamento e paralização do Fundo Amazônia, um crucial
e reconhecido instrumento público de captação de recursos, vinculado ao próprio
MMA, pelo qual o país arrecada doações internacionais destinadas ao controle do
desmatamento.
A
segunda alude à absurda campanha difamatória promovida pelo MMA contra ONGs
ambientalistas, acusando essas organizações – que se dedicam a combater o
desmatamento e a fomentar alternativas produtivas à pecuária – de conspirar para
saquear e destruir a região.
Por
fim, a terceira evidência – a mais grave, por sinal – remete à omissão, pura e
simples.
Não
foram poucas as ocasiões em que os gestores do MMA e o primeiro escalão governamental
demonstraram cabal indiferença quanto ao problema do desmatamento na Amazônia.
Para
o governo, a mazela ambiental da região se resume à ausência de saneamento
básico. O controle do desmatamento, portanto, é agenda adstrita a países
europeus, não configurando prioridade para o orçamento federal.
Postura
semelhante foi adotada em relação às queimadas, em julho passado. Mas a
repercussão negativa – que chegou mesmo a originar uma crise política – fez o Planalto
recuar em suas retrógradas posições.
Entretanto,
como desmatamento não faz fumaça e não chama a atenção, não há limites para a
indolência e desfaçatez do governo. Argumentos que contrapõem o desmatamento ao
progresso, coisa da década de 1970 e que há muito perdeu a validade, são repetidos
descaradamente.
Por
isso, é mais que legítima a preocupação em torno de uma ampliação recorde na
destruição florestal em 2020. Alertas vêm sendo feitos, e as estatísticas
preliminares não trazem boas notícias.
A esperança
está na resposta dos países europeus que mantém relação comercial com o Brasil
– que podem impor barreiras ao agronegócio tupiniquim.
No
que depender do governo federal, a floresta amazônica será destruída.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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