Planeta precisa de 1,2 trilhão de novas árvores
para equilibrar o clima
* Ecio Rodrigues
Desde
que o aquecimento do planeta passou a ser entendido como verdade científica, e que os países associados às Nações Unidas,
ONU, passaram a enfocar a redução de carbono na atmosfera como medida imprescindível
para reverter o aumento na temperatura, o plantio de árvores se tornou uma opção
inteligente – e prioritária.
Pois
um grupo internacional de conceituados cientistas logrou calcular a quantidade
de árvores que o mundo deve plantar, hoje, para contornar os efeitos da atual e
mais longa crise ecológica enfrentada pela humanidade.
O
estudo foi divulgado pela igualmente conceituada revista científica Science, em 5 de julho último.
Pelos
cálculos dos pesquisadores – e a despeito dos esforços para manter as florestas
nativas já existentes –, os países deverão plantar a expressiva quantidade de 1,2
trilhão de novas árvores, o que representa quatro vezes mais o número de árvores
nativas existentes na Amazônia.
Quer
dizer, muito embora atualmente existam cerca de 3 trilhões de árvores adultas
em todo o planeta, a fim de minimizar os efeitos das mudanças no clima são
necessários 4,2 trilhões de árvores, no total.
Mas
onde plantar as mudas? A resposta é bem mais simples do que se imagina: onde
antes havia florestas – por exemplo, nas áreas desmatadas para pasto e abandonadas
depois de terem sido destinadas à criação de boi.
As
áreas disponíveis para receber as árvores foram identificadas e mapeadas, constituindo-se
de terras ociosas, que não estão sendo utilizadas com fins econômicos.
Mais
de 50% dessas terras se concentram em 6 países: Rússia (151 milhões de hectares);
Estados Unidos (103); Canadá (78); Austrália (58); Brasil (50); China (40).
Ainda
que a demanda em relação ao plantio de novas árvores seja pauta recorrente nas
reuniões da ONU, o estudo publicado na Science
tem o mérito de trazer à tona as cifras implicadas no reflorestamento global,
que são impressionantes – seja pela colossal quantidade de árvores a serem
plantadas, seja pelo altíssimo investimento financeiro requerido.
Todavia,
uma vez concretizado o reflorestamento, o resultado também será impressionante:
o trilhão de novas árvores irá retirar 25% de todo carbono presente na
atmosfera, levando os níveis desse gás a regredir aos padrões observados no
período da Revolução Industrial.
Outra
revelação importante da pesquisa diz respeito à informação de que, em média,
uma árvore leva até 18 anos para ser considerada adulta e prestar, de maneira
plena, o serviço de retirar e estocar o carbono lançado na atmosfera.
Significa
dizer que, para atingir as metas estipuladas no Acordo de Paris e não ultrapassar
o limite de 1,5 graus Celsius de aumento na temperatura planetária até 2050,
estabelecido pelo IPCC (painel da ONU que reúne mais de 3.000 cientistas), a
humanidade terá que se apressar, pois o prazo para plantar árvores já começou.
Mas
os pesquisadores reconhecem as dificuldades que cercam a organização de um
arranjo dessa envergadura, envolvendo praticamente todas as nações do mundo e
uma extraordinária área de terras degradadas (de natureza privada e pública), a
serem aradas para o cultivo das árvores. Certamente será necessário conceber
mecanismos de fomento para atrair os proprietários.
Comprovação
científica não falta: aos brasileiros, já não basta zerar o desmatamento da
Amazônia, também precisamos plantar uns tantos milhões de árvores. Quando vamos
começar?
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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