“Os limites do crescimento”,
50 anos depois
* Ecio Rodrigues
Também
conhecido por “Relatório Meadows”, em referência ao casal Donella e Dennis Meadows,
que coordenou o grupo de cientistas responsável por sua elaboração, o documento
intitulado “Os limites do crescimento” completa 50 anos em 2020.
Sob
os auspícios do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e financiada pelo
Clube de Roma (que congrega empresários e personalidades da ciência e da
política), a equipe de pesquisadores buscou respostas sobre a relação entre o
crescimento demográfico e a capacidade de suporte do planeta.
Naquela
época (1970), acreditava-se que a humanidade poderia estar condenada à inanição:
segundo Thomas Malthus, a população mundial cresceria mais que a oferta de
alimentos e, por isso, a data da explosão da bomba demográfica, dada como
certa, deveria ser calculada.
O
interesse do Clube de Roma – por sinal, bastante atual – resumia-se, grosso modo,
em investigar se o padrão de consumo humano e os acentuados índices de crescimento
demográfico (então observados) levariam à exaustão dos recursos naturais do
planeta e, por conseguinte, comprometeriam o atendimento das necessidades das
futuras gerações.
Na
busca por um padrão estatístico – de forma a prever as implicações decorrentes
do consumo – e assumindo a incapacidade de suporte do planeta, os cientistas
testaram modelos matemáticos para expressar a dinâmica de oferta e consumo de
alguns recursos naturais previamente selecionados.
Considerando
a interdependência – ou conexão, para usar um termo mais contemporâneo –, existente
no planeta, entre impactos ambientais locais e eventos climáticos globais, Meadows
lançou mão da análise de sistemas matemáticos (por intermédio da ilimitada capacidade
de processamento trazida pelos computadores), a fim de inferir a respeito do
destino da humanidade e do planeta.
Para
tanto, cruzou curvas construídas com base em séries históricas de 100 anos, em
relação a 8 indicadores-chave: demografia humana; produção industrial per
capita; consumo de alimentos per capita; poluição ou resíduos sólidos gerados;
estoque de recursos não renováveis; taxa de natalidade populacional bruta; taxa
de mortalidade bruta; e oferta de serviços per capita.
No
cruzamento das curvas por computador, Meadows esboçou um gráfico- padrão, medindo
o comportamento de cada variável ao longo dos 70 anos anteriores (1900) e estimando
sua continuidade até 2100. Nesse gráfico, as curvas apresentam uma ruptura
drástica no crescimento populacional antes de chegar em 2100, em decorrência da
mortalidade por inanição – por conta, sobretudo, da redução da oferta de
alimentos.
Em
uma segunda simulação, dobrou-se, até 2100, a quantidade de recursos naturais disponíveis
em 1900. Ainda assim, o colapso demográfico persistiu, uma vez que a poluição
funciona como barreira intransponível, em face da incapacidade de assimilação,
pelo planeta, de resíduos e dejetos.
Finalmente,
Meadows afirma que “o futuro da humanidade reserva momentos de crescimento
seguidos de colapso em uma desoladora e esgotada existência”.
A
conclusão dos pesquisadores foi que os padrões de crescimento e de consumo da
humanidade não são racionais, e que uma mudança de comportamento para reduzir a
exploração dos recursos naturais prolongaria a existência humana na Terra.
Diante
da atual crise ecológica, as respostas da equipe de Meadows, passados 50 anos,
mostram-se mais certeiras do que nunca.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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