O planeta é uma espaçonave, somos apenas os passageiros
* Ecio Rodrigues
Desde a massificação do uso industrial do petróleo,
sobretudo depois do fim da Segunda Guerra, a população mundial passou a crescer
de maneira permanente e sob patamares superiores aos observados na primeira
metade do século XX.
A preocupação com a ocorrência de uma explosão
demográfica, nos moldes alertados por Tomas Malthus ainda em 1789, levou muitos
economistas a discutir a relação existente entre a capacidade de oferta do
planeta e a demanda derivada do crescimento populacional.
A maior parte desses autores se valeu de referências
da ecologia para diagnosticar o presente e arriscar prever o futuro da
humanidade.
Diversas teorias surgiram antes do lançamento, pelo
Clube de Roma, do célebre relatório “Os Limites do Crescimento”; o destaque vai
para o artigo publicado pelo inglês Kenneth Ewart Boulding em 1966.
Com o sugestivo título “The Economics of the Coming
Spaceship Earth”, o artigo de Boulding logrou explanar, de maneira bastante
didática, por meio da metáfora da “espaçonave Terra”, que o planeta é um sistema
fechado e, nessa condição, sua exploração é restrita, ou seja, encontra limites.
O eminente
economista, pioneiro nesse tipo de abordagem, chamou a atenção para um fato relativamente simples: o contraste entre a infinitude
demográfica e a finitude territorial do globo terrestre.
Em
síntese, a metáfora da Terra como uma nave espacial traz a percepção da
transitoriedade da existência humana – somos apenas passageiros, o que nos
torna responsáveis pela conservação do planeta para os passageiros que nos vão
suceder.
Na opinião
de Boulding, o homem começara a mudar a forma como se via e como via o ambiente
que o cercava.
Denominada
de “econosfera”, a economia da espaçonave, segundo o autor, deveria ser
considerada como um subconjunto daquele sistema fechado.
Assim,
a econosfera se dinamiza por meio de entradas e saídas, na medida em que produzimos
ou consumimos alguma coisa – sendo que tudo o que se produz e tudo o que se
descarta está circunscrito aos limites da espaçonave.
Para
o autor, encontra-se no conhecimento a chave para superar os entraves
tecnológicos presentes na econosfera. Toda matéria-prima explorada na
espaçonave só teria importância e começaria a integrar econosfera depois de ser
manufaturada por meio do conhecimento humano.
Sobre
as razões para o conhecimento humano não solucionar os problemas relacionados à
adequação dos padrões de consumo aos limites da espaçonave, Boulding esclarece que
a maioria desses problemas foram resolvidos, contudo, o aproveitamento das
soluções depende de uma vontade política ainda escassa no mundo.
Por
exemplo, uma medida estudada e considerada suficiente pelos economistas para reverter
os prejuízos decorrentes de impactos ambientais seria alterar o sistema de
preços, por meio da aplicação de uma taxação corretiva.
Passados
mais de 50 anos desde a divulgação do artigo, a ideia da taxação corretiva,
caso houvesse vontade política, poderia ser empregada com sucesso para zerar o
desmatamento legalizado na Amazônia.
Afinal,
como afirmou Boulding, se os indivíduos arcassem com o custo pelos transtornos
que provocam, haveria mais recursos para prevenir esses transtornos.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília.
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