ICMBio é refém de
suas contradições, mas fechar não é opção
* Ecio Rodrigues
A
demissão do presidente e outros quatro diretores do ICMBio (Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade) e sua substituição, sem cerimônia ou explicação,
por policiais militares, causou perplexidade.
Por
sinal, a troca de gestores (de civis por fardados, inclusive) não é novidade no
governo federal, cuja atuação parece oscilar entre o despreparo e a indiferença,
em relação a conceitos como competência e eficiência.
No
caso do ICMBio, todavia, levando em consideração as contradições que impregnam
a história do órgão, a entrada em cena de policiais não é uma das mais
relevantes – pelo contrário, é o corolário de uma orientação que vem sendo assumida
nos últimos 10 anos. Senão vejamos.
Afora
a infeliz ideia de homenagear um ícone ambientalista no batismo do novo órgão
público, os gestores do Ministério do Meio Ambiente que conceberam o ICMBio cometeram
dois equívocos que, no decorrer do tempo, viriam a comprometer o funcionamento do
instituto.
O
primeiro deles foi confundir unidades de conservação com biodiversidade.
Sob a
petulância e megalomania peculiares a essa fase do MMA, criaram um órgão para
gerenciar toda a biodiversidade existente no país, e não, como era o mais
indicado, para administrar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – o que,
em si, já seria uma missão das mais complexas.
Não
satisfeitos com a perda de foco territorial – saindo do espaço geográfico
circunscrito às unidades de conservação para abarcar o país inteiro –, impuseram
ao ICMBio um rol de atribuições múltiplas e incompatíveis, que abrangem fiscalização,
ordenamento territorial e exploração comercial da biodiversidade.
Negaram-se
a deixar a fiscalização para o Ibama, órgão que já havia perdido o tema da
gestão de recursos hídricos para a Agência Nacional de Água, e o das florestas,
para o Serviço Florestal Brasileiro, tendo se fixado em sua especialidade:
fiscalizar.
Nessa
frustrada incumbência para cobrir de um extremo a outro, o técnico do ICMBio
deveria operar o milagre de ora fiscalizar e ora fazer extensão, a depender do
dia e da hora. Poderia fiscalizar pela manhã e ser amigo do produtor à tarde.
Com
atuação territorial abrangente e sem foco de atribuição, o ICMBio teve seu desempenho
questionado reiteradas vezes. O destaque fica por conta da auditoria
operacional realizada pelo TCU em 2013, que concluiu que as unidades de conservação
possuem problemas insuperáveis de gerenciamento, a ponto de restar comprometido
o objetivo de sua criação.
Diante
de incertezas várias sobre o que deveria ou não fazer e, ao mesmo tempo,
exposto a um infindável número de denúncias apontando irregularidades dentro e
fora das unidades de conservação, tais como invasões, caças predatórias, derrubadas
de árvores, retirada de madeira, o ICMBio foi levado a reforçar seu aparato
fiscalizatório.
Nesse
contexto, lamentavelmente, há que se aquiescer que a nomeação de uma diretoria
formada por policiais vai ao encontro do que se espera do ICMBio: fiscalizar.
Como notícia ruim não vem sozinha, ao descambar para fiscalização, o ICMBio se alinha
ao especialista nesse tema, o Ibama.
Mas
fechar o ICMBio não é a solução.
Afinal,
a riqueza em biodiversidade florestal presente nas unidades de conservação (que
correspondem a 15% do território da Amazônia) é fundamental para as frágeis
economias locais.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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