terça-feira, 9 de novembro de 2021

COP 26 vai exigir investimento na geração de energia hídrica, eólica e solar

* Ecio Rodrigues

Dois pontos são centrais nas negociações em curso na COP 26, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que está se realizando em Glasgow, Escócia, e vai até 12 de novembro – desmatamento zero e energia limpa.

Embora o primeiro diga respeito a todas as florestas existentes no planeta, ninguém duvida que a devastação da floresta amazônica é, de fato, o que mais chama a atenção e mais interessa à humanidade.

Não à toa, as discussões se reportam ao compromisso assumido pelo Brasil perante o Acordo de Paris, assinado em 2015 – de erradicar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030.

Acontece que, como reiterado diversas vezes nesse espaço, para os países não existe distinção entre desmatamento ilegal/legalizado, posto que um e outro produzem os mesmos efeitos deletérios para o clima (para saber mais, acessar http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=5148&_ano=2021).

Em resumo, se em 2015 a promessa dos brasileiros foi recebida com certo incômodo, diante de sua timidez (o que evidenciava passividade e ausência de ousadia), na COP 26 a ONU e o mundo cobram a estipulação de uma data-limite para o fim da destruição da floresta tropical na Amazônia.

De outra banda, e da mesma forma como ocorre em relação ao desmatamento zero, para os especialistas em mudanças climáticas já não é possível esperar até 2030 para abolir o uso de combustíveis fósseis (leia-se: petróleo) na geração de energia elétrica.

Por isso, projetos destinados à construção e instalação de usinas de geração de energia mediante captação da luz solar, aproveitamento dos ventos, queima de biomassa florestal e uso da força das águas já são considerados prioridade máxima pelos fundos de investimentos e organismos multilaterais de cooperação, como o Banco Mundial.

A pergunta que vale um milhão de dólares é o que o mercado mundial de energia vai fazer no pós-COP, a fim de cumprir a sua parte no ousado objetivo de impedir que a temperatura do planeta aumente mais que 1,5ºC até o final do século.

Se por um lado esse setor é o mais pressionado, por outro é o que conta com operadoras gigantescas e poderosas do porte da Shell, da Petrobras, da Exxon e assim por diante.

Há muito dinheiro e postos de trabalho envolvidos, e – como se sabe – uma alteração tão drástica de cenário traz riscos à economia, acarretando perdas volumosas de recursos financeiros para uns e ganhos em igual proporção para outros.  O mais grave: pode comprometer a oferta de energia.

Um primeiro passo foi dado, já durante a COP. O pacto pela redução das emissões de metano, um gás de grande impacto no aquecimento de curto prazo do planeta, foi capitaneado pelos EUA e contou com assinatura do Brasil e de mais de 100 países.

A imediata redução nas emissões de metano atinge diretamente a produção do gás usado na geração de energia elétrica e como combustível de veículos. A previsão é que, nos próximos 5 anos, a contribuição do metano para o efeito estufa caia radicalmente.

O segundo passo, mais complexo, prevê a descarbonização do setor de energia elétrica, e é aí que entram os investimentos na construção de usinas para geração de energia com o uso de fontes renováveis.

O mundo assistirá, ainda na década de 2021, a um crescimento vertiginoso no número de usinas em funcionamento para geração de energia hídrica (hidrelétricas), energia solar (painéis fotovoltaicos) e energia eólica (cata-ventos).

Por fim, o terceiro passo, também crucial, alude à eletrificação dos veículos utilizados no transporte rodoviário de cargas e de passageiros.

Os céticos vão continuar não acreditando, mas é bom começar a prestar atenção, o mundo está em transformação.

  

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

 

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