terça-feira, 2 de novembro de 2021

COP 26 vai cobrar desmatamento zero na Amazônia

 * Ecio Rodrigues

Como muitos devem lembrar, o Brasil se recusou a sediar a COP 25 em 2019 – no lugar do Chile, que se encontrava em ebulição política. A COP 25 terminou acontecendo em Madri.

Não apenas por essa desfeita à ONU, mas devido também a outras afrontas e trapalhadas por parte do governo brasileiro, é bem provável que, de todas as vezes que participou de conferências mundiais sobre meio ambiente, o país chegue à COP 26 em seu contexto diplomático mais fragilizado. 

E, evidentemente, não adianta manipular os dados sobre a destruição florestal na Amazônia a serem exibidos na Escócia. Ao contrário, para que a tendência de elevação do desmatamento venha a ser contida, devem ser apresentados números factuais.

Por manipulação de dados entenda-se, por exemplo, fazer distinção entre desmatamento ilegal e legalizado – no intuito de levar a crer que o primeiro deve ser combatido enquanto o segundo seria aceitável, eis que realizado sob o amparo do Código Florestal.

Não é preciso dizer que, seja o desmatamento ilegal ou legalizado, os efeitos danosos para o clima são os mesmos. Mas, a despeito de sua estupidez evidente, essa estratégia vem sendo usada há tempos pelos gestores ambientais brasileiros. 

A cortina de fumaça (assumindo-se o trocadilho) envolve ainda juntar informações sobre o controle do desmatamento nos 6 biomas nacionais, de modo a acobertar o que realmente interessa aos países, ao mundo e à ONU: o destino da Amazônia.

As regiões nas quais a ocupação produtiva já se encontra amplamente consolidada – como é o caso dos Pampas Gaúchos, do Pantanal, da Mata Atlântica e do Cerrado, 4 dos 6 biomas presentes em território brasileiro – apresentam dados anuais com baixa alteração da paisagem florestal, que há muito foi substituída pelo agronegócio.

Dessa forma, os levantamentos relacionados ao controle e monitoramento desses biomas, que, por óbvio, são bastante favoráveis ao governo (pois, como dito, as alterações na paisagem nativa se deram anos atrás) ajudam a mascarar a realidade observada na Caatinga e, principalmente, na Amazônia.

Todavia, sem desprezar os outros biomas e os esforços do aparato fiscalizatório para reprimir as irregularidades, o mundo não está preocupado com o inexorável processo de inclusão da Caatinga nos domínios do agronegócio – e, sim, com a gravidade da destruição florestal na Amazônia.

Por outro lado, foi-se o tempo em que a ONU e os países se deixavam levar pela confusão conceitual entre desmatamento ilegal/legalizado ou pela estabilidade das estatísticas de controle do desmatamento em regiões de ocupação consolidada.

Enquanto as demais nações que assinaram o Acordo de Paris e que estarão representadas na COP 26 serão cobradas em relação à alteração de suas matrizes energéticas, a fim de substituir o petróleo por fontes limpas, do Brasil será exigido o cumprimento da meta por nós assumida de zerar o desmatamento na Amazônia.

Assim, o que o mundo quer saber é unicamente quando esse compromisso será honrado.

O fim da destruição florestal na Amazônia é o passaporte dos brasileiros para o futuro.

 

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

 

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