terça-feira, 19 de outubro de 2021

ONU alerta: planeta está no limite do aquecimento e o desmatamento da Amazônia tem muita culpa

 * Ecio Rodrigues

Em documento atípico, por conter termos categóricos que mesclam ameaças e alertas, os mais de 3.000 cientistas, incluindo 20 brasileiros, que integram o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) apresentaram o 6º relatório produzido pela organização desde sua criação, em 1988.

Publicado em 8 de agosto último, o pronunciamento do IPCC traz conclusões acerca das evidências indicadas no 1º relatório, divulgado em 1990 – com relação ao aumento de temperatura do planeta e, não menos importante, à participação do Homo sapiens nesse processo.     

As respostas são incisivas e inquietantes. Não há nenhuma dúvida quanto à constatação de que o planeta está esquentando, restando apenas aferir se a elevação da temperatura na Terra será de 10, 1,50 ou 20 até 2050.

A péssima notícia é que, nas 3 simulações empreendidas, ficou demonstrada a ocorrência de tragédias ambientais – que, entre outras implicações, afetarão parte considerável das populações que vivem próximas ao nível do mar, como é o caso dos habitantes da maioria das capitais amazônicas.

A única saída, como defende o IPCC, é atacar as causas do aumento de temperatura, de modo a estabilizar o termômetro. Mas é necessário bem mais empenho do que o despendido hoje para neutralizar os agentes do aquecimento.

E o IPCC foi taxativo quanto ao fato de que a culpa pelo aquecimento é exclusivamente da humanidade.

São as atividades produtivas, levadas a efeito para atender à demanda humana por alimentação, moradia, transporte e vestuário – para ficar apenas nas necessidades mais básicas –, que lançam aos céus uma quantidade de gases impossível de ser assimilada pelo planeta, principalmente CO2 (dióxido de carbono), o gás com maior participação na elevação da temperatura global.       

Os países mais industrializados, quase todos integrantes do Hemisfério Norte, devem encontrar meios de reduzir suas emissões de carbono sem comprometer a capacidade de satisfazer às necessidades das gerações atuais e futuras.

De outra banda, os países do Hemisfério Sul – cujas emissões provêm basicamente do agronegócio – devem realizar sua produção agropecuária sem comprometer áreas de florestas nativas.

É aqui que entra a Amazônia e a responsabilidade dos brasileiros para com o mundo.    

O planeta aquece por conta, sobretudo, de dois fatores: consumo de combustíveis fósseis (especialmente para viabilizar as indústrias); e avanço do agronegócio sobre áreas de florestas. Pela primeira vez, o IPCC dimensionou as duas principais contribuições humanas para as mudanças climáticas.

Ou seja, não adianta levantar questionamentos e suspeições, o desmatamento contribui para o aquecimento do planeta – isso é fato científico.

Dispensável ressaltar que, no que respeita às mudanças climáticas, o IPCC é a mais capacitada, conceituada, influente e representativa autoridade científica do mundo, sendo inquestionáveis suas conclusões.

Não à toa, o rigoroso e abrangente trabalho desenvolvido por esse organismo, que analisa os resultados das pesquisas científicas sobre o clima em âmbito mundial, foi laureado com o Nobel da Paz em 2007.

Em síntese, os renomados cientistas do IPCC advertem e pressionam os países, a fim de que assumam imediatamente medidas de redução da quantidade de carbono produzido – para o bem da humanidade.

Cabe aos brasileiros mostrar ao mundo que a meta de zerar o desmatamento na Amazônia será alcançada – até 2030.

 

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

 

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