domingo, 10 de outubro de 2021

Julho de 2021, o mês mais quente da existência humana

 * Ecio Rodrigues

Depois da publicação do 6º relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que chocou o mundo com o alerta catastrófico sobre o aquecimento do planeta, outra notícia desagradável: julho de 2021 bateu recorde de calor.

Não foi a primeira vez que julho foi considerado o mês mais quente da história – pelo menos desde que foi possível esse tipo de medição, ainda no início da Revolução Industrial, em 1880.

O recorde anterior ocorreu em 2015, de acordo com os cálculos da Noaa, a agência oceânica e atmosférica americana (para saber mais, acessar http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=3127).

Divulgado em 13 de agosto último, o registro da Noaa para julho de 2021 reforça a tendência de aquecimento global reiteradamente apontada pelo IPCC – que vem prevendo novos recordes nos próximos anos se medidas de contenção não forem imediatamente adotadas.

De maneira unânime, o que não costuma acontecer no âmbito da ciência, os cientistas recomendam aos países a implementação de ações e projetos com o objetivo de reduzir, no curto prazo, o consumo de combustíveis fósseis (leia-se: petróleo).

Entre os setores intensivos em emissão de dióxido de carbono (considerado o principal gás do aquecimento), os prioritários para a transição para uma matriz limpa são o setor de energia elétrica e o de transporte.

A construção de usinas para a geração de energia hídrica, solar e eólica, bem como a substituição do sistema de combustão (diesel e gasolina) pelo elétrico nos veículos automotores estão no topo da lista dos bancos e fundos de investimentos para o financiamento de projetos.

Inclusive, o Banco Mundial e o Banco Interamericano, os dois mais importantes agentes financeiros que atuam nas Américas, conferiram à geração de energia elétrica limpa e aos motores elétricos o status de assunto emergencial.

Com relação aos sumidouros de carbono (como as florestas são denominadas pelo sistema financeiro), os cientistas da Noaa e do IPCC são veementes na advertência de que é preciso urgentemente ampliar as áreas de floresta e, mais urgente ainda, zerar o desmatamento na Amazônia.

Não à toa, em assembleia-geral realizada no início do ano, a ONU proclamou a década que começa em 2021 como “Década da Restauração de Ecossistemas” – induzindo os países a investir vultosos recursos no plantio de florestas para recuperar, ou restaurar, ecossistemas degradados.

É aqui que surge de forma destacada a meta do desmatamento zero na Amazônia, há muito cobrada pela Europa e, mais recentemente, pelos Estados Unidos.

Não são necessários grandes esforços de análise geopolítica para perceber que o cerco em torno do desmatamento da Amazônia está se fechando, sendo que o mundo já não se dispõe a tolerar a ampliação da taxa anual, como vem ocorrendo desde 2012 (único ano em que foram desmatados menos de 5.000 km2 de florestas).

Quando sucessivos recordes de calor nos levam a suportar, repetidamente, os meses e anos mais quentes de nossas vidas, as consequências são secas, alagações, incêndios, tsunamis e outras tragédias decorrentes das mudanças climáticas.

O cerco está se fechando, e para a Amazônia – tanto em termos ambientais quanto econômicos e sociais – só há uma saída: zerar o desmatamento.

 

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

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