2010-19:
década perdida para a sustentabilidade na Amazônia (1ª parte)
* Ecio Rodrigues
A segunda
década do século XXI foi perdida para a sustentabilidade da Amazônia?
Lamentavelmente,
só há uma resposta para essa pergunta: sim! De uma análise dos avanços e recuos
observados entre 2010 e 2019, o saldo é negativo para a sustentabilidade da
maior floresta tropical do planeta.
Comecemos
pelo ano 2010, quando o país alcançou PIB próximo a 8%, de longe o maior da
década. A despeito do aquecimento da economia, em 2010 o desmatamento manteve a
tendência de queda iniciada em 2005 – reforçando a tese de que é possível
conciliar o crescimento econômico com a sustentabilidade ecológica da Amazônia.
O ano
de 2010 marca também o início da operacionalização do contrato de concessão da
Floresta do Jamari, localizada em Rondônia.
Como
apontam os especialistas, a concessão florestal é o mecanismo adequado para
ampliar a participação da biodiversidade florestal na dinâmica econômica
regional. Sem embargo, apenas em 2006 foi editada a Lei de Gestão de Florestas
Públicas, e dois anos depois, em 2008, foi leiloada a Flona do Jamari, a
primeira unidade de conservação a ser concedida à exploração privada.
Por
outro lado, uma seca extrema levou a um aumento recorde das queimadas em 2010,
e o risco de ocorrência de incêndios florestais (como os que aconteceram em
2005) deixou o país e o mundo em estado de alerta.
A
seca também dificultou o deslocamento de balsas pelo rio Madeira, isolando o
Acre do restante do país. Por conta disso, o abastecimento do estado ficou
comprometido por quase 60 dias.
Diante
do cenário promissor (legado do ano anterior) de aumento da riqueza e redução
do desmatamento, em 2011 a demanda por uma nova política florestal regional
surgiu de maneira quase espontânea.
Todavia,
essa expectativa não se concretizou, e a sustentabilidade da Amazônia sofreria
um significativo revés por efeito do baixo nível técnico que caracterizou as
audiências públicas realizadas nas capitais dos nove estados da região para
discussão do novo Código Florestal.
O
resultado das primeiras votações no Congresso refletiu essa guinada rumo ao
retrocesso: seguindo na direção oposta à apontada pela ciência, os deputados
aprovaram, por imensa maioria (mais de 400 votos), a redução da faixa de mata
ciliar dos rios, além de outras alterações perigosas, relacionadas às áreas de
reserva legal e de preservação permanente.
Uma
retração drástica no crescimento econômico do país levou a uma redução
igualmente expressiva na destruição florestal em 2012 – e pela primeira vez
desde que se iniciaram as medições em 1988, o desmatamento na Amazônia abrangeu
extensão inferior a 5 mil km2.
Se
romper o piso dos 5 mil km2 foi a boa notícia, a má com certeza foi a
aprovação do novo Código Florestal, que não chegou nem perto de atender aos
anseios dos ambientalistas e dos cientistas.
Entre
outros anacronismos, a nova legislação desconsiderou a importância das
florestas especiais presentes em APP e áreas de reserva legal, e recuou em
relação à promoção de uma economia ancorada na biodiversidade florestal da
região.
Especificamente
no caso do Acre, 2012 traria ainda a infeliz decisão do governo estadual de
extinguir a Secretaria de Florestas, SEF, a primeira e única, em toda a Amazônia,
voltada para o trato dos temas florestais – o que, por si, já seria forte
justificativa para sua manutenção.
O
fim da SEF jogou por terra uma experiência exemplar e estratégica para a região,
de gestão da produção florestal em âmbito estadual.
A
reversão da tendência de queda na destruição florestal e o início de um lento
porém persistente ciclo de aumento na taxa de desmatamento marcou o ano de
2013, mas isso é assunto para outro artigo.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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