terça-feira, 24 de maio de 2011

Inventário Florestal descreve a mata ciliar do Rio Acre
* Ecio Rodrigues
A importância da vegetação existente nas margens dos rios, denominada de mata ciliar, foi reconhecida desde a elaboração do Código Florestal que forneceu especial destaque a essas formações florestais, a ponto de incluí-las no que a legislação convencionou chamar de Área de Preservação Permanente.
Ou seja, são florestas que devem ser preservadas para garantir a qualidade da água e o equilíbrio das vazões dos rios evitando, por isso, ocorrência de alagações e secas extremas. Todavia, apesar da garantia legal as conseqüências dos desmatamentos realizados nas margens dos rios são cada vez mais visíveis.
Nesse contexto, diagnosticar o nível de ocupação antrópica e as transformações na mata ciliar acarretada pela produção agrícola, em especial pela criação de gado, ao mesmo tempo em que propõe sistemas de restauração florestal nos trechos desmatados, passaram à condição de prioridade para a academia e institutos de pesquisas que atuam na Amazônia.
Com apoio do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico, CNPq, que esta completando 60 anos, os engenheiros florestais da Universidade Federal do Acre iniciaram um ousado projeto para estudar a mata ciliar do Rio Acre, principal provedor de água para capital, Rio Branco e mais outros sete municípios.
Com orçamento de R$ 200.000,00 o projeto, que tem o sugestivo nome de Ciliar Só-Rio Acre, uma alusão ao rio, aos cílios e ao sorriso, irá desvendar quais espécies florestais são nativas da mata ciliar e, portanto, indicadas para serem usadas na sua restauração florestal.
Para isso foi preciso realizar um amplo mapeamento com imagens de satélite para que, em todos os 8 municípios envolvidos, se pudesse calcular o grau de desmatamento existente na mata ciliar daquela cidade. A partir daí foi possível identificar, quais os trechos do rio eram críticos para restauração.
Com o mapeamento concluído o segundo passo foi a execução de um Inventário Florestal, em toda extensão de mata ciliar, de Porto Acre até Assis Brasil, em uma faixa de dois quilômetros de largura em cada margem do rio.
A resposta encontrada pelo Inventário consta de monografia de conclusão do curso de graduação em Engenharia Florestal elaborada por Moema Silva Farias, que calculou quais eram as 20 espécies florestais com maior Índice de Valor de Importância e que deveriam ser utilizadas para restauração florestal da mata ciliar.
Organizar um programa de extensão florestal para convencer autoridades dos oito municípios acerca da importância e emergência para assumir a tarefa da restauração é o próximo passo do Ciliar Só-Rio Acre.
O projeto é fruto de uma concentração de esforços que envolveu, além da UFAC, a Embrapa-Acre, a Unesp e, a partir de agora, as prefeituras municipais. Para tanto está sendo preparado material de extensão para divulgação das 20 espécies florestais e a realização de palestras junto às Câmaras de Vereadores e o executivo municipal.
Espera-se que ao final do projeto, cada município aprove sua Lei Municipal de Mata Ciliar, definindo qual a largura da mata ciliar será apropriada à sua realidade e que tipo de manejo poderá ser praticado ali.
A partir do trabalho concluído pela, agora, Engenheira Florestal Moema, um novo horizonte se abre para a realização de outros estudos, com o tema da mata ciliar. Uma linha de pesquisa nova e de fundamental importância tendo em vista que a lacuna de conhecimento era enorme.
Voltar atenção para mata ciliar dos rios, sobretudo na Amazônia, é uma tendência da academia e a Engenharia Florestal da UFAC fornece sua contribuição.

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

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Livro Ciliar Só Rio Acre

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