* Ecio Rodrigues
Embora
se reconheça a dificuldade do governo para selecionar e contratar profissionais
experientes em projetos de desenvolvimento para o Acre, os líderes políticos do
Projeto Florestania não demonstraram estatura para compreender e, o melhor, tentar
vencer a empreitada.
Segundo
a teoria do Triangulo de Governo, elaborada pelo economista chileno Carlos
Matus na década de 1970, os gestores e técnicos compõem a Capacidade de Governo
que em conjunto com o Projeto de Governo e a Governabilidade formam o tripé de
sustentação de um mandato.
No
caso do fracasso do Projeto Florestania, analisado aqui e em outros artigos
semelhantes publicados nesse espaço, a reduzida quantidade e qualificação dos
gestores e equipe técnica comprometeu a Capacidade de Governo direcionada para
criar as condições propícias ao progresso econômico.
Resumindo,
o complexo desafio da transformação produtiva em direção ao aproveitamento do
potencial representado pela biodiversidade florestal se mostrou grande demais
para o número e a experiência acumulada pelos especialistas disponíveis na
estrutura de governo.
Como
afirmam os produtores criar boi é fácil, agora manejar a floresta é muito complicado.
Aqueles
que estão familiarizados com a realidade rural amazônica e sobretudo no Acre
devem concordar que tirar a produção rural de mais de 40 anos de atraso
tecnológico com a criação de boi e plantio de arroz, feijão, milho e macaxeira,
não é tarefa das mais simples.
Empreitada,
contudo, piorada em demasia quando a alternativa ao primitivo modelo de corte-e-queima,
única diga-se, reside na exploração de um rol de
produtos que existem na biodiversidade, mas que, devido a muitas razões, apresentam
uma insuperável falha de mercado.
Ao
mesmo tempo em que possui reconhecido valor econômico estratégico, para o
futuro, a biodiversidade florestal não consegue ser comercializada com preço
atrativo hoje, no presente.
Alguns
produtos mais outros menos, porém a falha de mercado é uma realidade que
persiste desde o final do século passado e somente poderá ser superada com
ajuda incondicional e permanente de uma política pública que resista ao tempo.
Pelos próximos 20 anos, por exemplo.
Para
contextualizar pode-se afirmar que em uma métrica de sustentabilidade as
diversas alternativas produtivas para ocupação do solo no Acre variam do menor
nível e elevado risco ecológico, representado pelo desmatamento para plantio de
capim, até o de maior sustentabilidade e risco zero representado pela Estação
Ecológica do rio Acre, onde é proibido mexer na floresta.
Em
outras palavras, assumindo que não há menor chance de convivência dos dois
modelos funcionar em um solo com e sem desmatamento ao mesmo tempo, a economia
no setor primário acreano se concentra em dois grandes grupos: exploração
técnica e comercial da biodiversidade florestal versus destruição da biodiversidade florestal.
Dominar,
compreender e concordar com essa máxima deveria ser uma condição para os
especialistas entrarem na equipe responsável pela execução do Projeto
Florestania. Mas, infelizmente, não foi nada disso.
Lançando
mão do exemplo mais evidente e de simples constatação, tanto a política
florestal iniciada em 2001 quanto o Sistema Estadual de Áreas Naturais
Protegidas, considerados pilares para a saída econômica pela floresta,
requeriam gestores com perfil para conseguir ampliar a pequena participação da
biodiversidade florestal no PIB acreano.
Finalmente,
experiências de gestão pública bem-sucedidas demonstram que a competência para
gerenciar e o domínio de especialidades em áreas prioritárias ao Projeto de
Governo, são condições essenciais para evitar o colapso.
Mesmo
que num primeiro momento o Projeto Florestania reuniu uma equipe promissora, os
resultados mostram que no andar da carroça o profissional ou gestor ideal cedeu
o lugar para o assessor pessoal.
Sempre
fiel e muito preocupado com a próxima eleição o assessor resguardava o futuro
do político, sem se importar com o futuro do Projeto Florestania.
Mas
isso é outro artigo.
*Engenheiro
florestal (UFRuRJ), mestre em Política Florestal (UFPR) e doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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