* Ecio Rodrigues
Ainda
em 2006 publicamos um artigo com o sugestivo título “Com a alagação, Acre não
queimará em 2010”. O texto fez parte de uma campanha solitária para que o Acre,
com planejamento e técnica, se preparasse para zerar a prática agrícola das
queimadas a partir de 2010. Claro que a campanha fracassou.
Depois
desse, um conjunto de mais de 30 artigos sobre alagação e seca no rio Acre chamou
a atenção para as soluções técnicas possíveis. Com disciplina inusual, em todos
os anos dos últimos 20, no mínimo um artigo foi publicado sobre a raiz do
problema: desmatamento.
Ainda
hoje, muitos políticos e gestores públicos preferem não adentrar nessa inóspita
e antiga discussão por não acreditarem no desmatamento zero. Tudo bem. Outros,
por razões ideológicas acreditam que o produtor no Acre ainda tem direito a
desmatar e também a queimar.
Porém
a relação entre desmatamento (causa) e alagação (consequência) possui evidência
cientifica robusta e inquestionável.
A
retirada da cobertura florestal dos solos no Acre leia-se desmatamento, causa a
erosão que vai assorear os rios e igarapés e comprometer a capacidade do leito do
rio receber a água da estação das chuvas.
Divulgada
por jornalistas sensacionalistas e distraídos com a informação como sendo a
segunda maior, a alagação de 2023 trouxe novos elementos que podem ajudar os
engenheiros a encontrar respostas, algumas inclusive de curto prazo de modo a
melhorar a resiliência dos rios.
Por
exemplo, se antes não despertavam atenção os rios e igarapés que desaguam no
rio Acre tiveram participação decisiva. Primeiro ao inundarem pontos de
estrangulamento de seu próprio leito, como no caso do São Francisco que adicionou
novas áreas e habitações àquelas já históricas alcançadas pelo rio Acre todos
os anos.
Ao
analisar a participação dos rios e igarapés será inevitável voltar a atenção
para um dos maiores polígonos da pecuária extensiva localizado na rodovia
estadual AC90, conhecida por Transacreana.
Continuando
o raciocínio, em todo lugar no Acre em que há predomínio da criação extensiva
de gado e são muitos, as taxas de desmatamento estão acima da média estadual
que, por sinal, desde 2012 apresenta tendência de elevação.
Não
por acaso, também é na Transacreana que se encontra porção considerável do
leito e da área das cabeceiras do São Francisco, Andirá e Rola, três dos principais
tributários do rio Acre.
Quantidade
expressiva de informação, com precisão superior aos dados obtidos em alagações
anteriores, foi coletada com rigor técnico, pelos excelentes profissionais que
trabalharam para minimizar os efeitos da alagação.
Com
a esperada vazante do rio Acre, o momento é mais que oportuno para discutir
soluções definitivas para alagação e seca do rio Acre.
*
Engenheiro Florestal (UFRuRJ), Mestre em Política Florestal (UFPR) e Doutor em
Desenvolvimento Sustentável (UnB).
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