quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019



Países são ricos ou pobres, de acordo com suas próprias decisões
* Ecio Rodrigues
Desde a publicação, em 1776, da célebre obra do economista Adam Smith, “A riqueza das nações”, ou “Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações”, do título original em inglês, que muitos estudiosos se debruçam sobre a complexa tarefa de explicar a existência de países ricos e pobres.
Considerado um dos principais, senão o principal, pensador do liberalismo econômico, Adam Smith, em sua vasta e profícua produção intelectual, ficou conhecido por conferir, ao livre comércio entre as nações e à especialização produtiva de cada país, a condição de requisitos-chave para o sucesso.
Os autores costumam recorrer ao filósofo escocês quando se referem à existência de uma “mão invisível” capaz de equalizar os preços das transações comerciais de bens e serviços entre as nações.
Por sua vez, os críticos ferrenhos da mão invisível saem em defesa das regulamentações estatais, sob a justificativa de que o interesse do mercado por lucros rápidos e elevados compromete a distribuição de riqueza – tornando os ricos cada vez mais abastados, e os pobres, mais miseráveis.
É nesse contexto que o norueguês Erik S. Reinert, em seu livro “Como os países ricos ficaram ricos... E por que os países pobres continuam pobres”, questiona e tenta – sem sucesso, evidentemente – demonstrar o fracasso do livre-mercado, enquanto receituário para o desenvolvimento de um país pobre.
Traduzido por Caetano Penna e republicado em 2016 sob os auspícios do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, o livro de Reinert defende que os países pobres não conseguem superar o estágio de baixo IDH sem que ocorra um intenso processo de industrialização.
Ainda que sob explicação precária, esteia sua tese na lei econômica dos rendimentos marginais decrescentes. Segundo essa lei, o rendimento obtido por meio de investimento em algum fator de produção (a incorporação de terras ao agronegócio, p.ex.) decresce, depois de alcançado um teto de produção.
Ocorre que, apesar de a produção em valores absolutos aumentar, a produtividade – isto é, a quantidade produzida em função de determinado fator de produção (terra, capital ou trabalho) – se reduz, sob taxas relativas crescentes.
Todavia, segundo sustenta Reinert, por meio da industrialização intensiva (não de qualquer produto, mas daqueles que propiciam agregação de valor), os rendimentos serão crescentes, o que pode melhorar o IDH dos países pobres.
Indo além, o autor remete a uma conspiração internacional arquitetada pelos países ricos, no propósito de que os pobres continuem sendo ou até piorem sua condição de pobreza.
Essa urdidura internacional, por óbvio capitaneada pelos Estados Unidos, por meio do Consenso de Washington, concretizar-se-ia mediante a remoção de barreiras comerciais para a venda dos produtos industrializados, dos países ricos aos países pobres.
O complô internacional para manter os países pobres mais pobres, segundo a crença estranha do autor, chegaria à política educacional. Nesse ponto, por sinal, Reinert beira o absurdo, ao afirmar:
Ao enfatizar a importância da educação sem considerar, simultaneamente, uma política industrial que crie demanda por pessoas instruídas – como fez a Europa ao longo dos últimos quinhentos anos -, as instituições de Washington aumentam os encargos financeiros dos países pobres, induzindo-os a financiar a educação de pessoas que só encontrarão emprego nos países ricos [...] Mesmo que o dinheiro que esses emigrantes enviam para seus parentes seja importante – em países como El Salvador, o fluxo de recursos dos emigrantes constitui a maior fonte de divisas estrangeiras –, ele é geralmente usado no consumo, não em investimentos.   
A despeito da citação de uma vasta bibliografia, que inclui autores de língua portuguesa, chama a atenção a ausência da valiosa contribuição de Celso Furtado, o que poderia trazer um viés mais inteligente a esse tipo de análise.
No fundo, parece que Reinert prefere apelar para a conspiração mundial engendrada pelos americanos, a ter de culpar os países pobres por suas decisões.


*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.


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