segunda-feira, 19 de março de 2012

Extensão florestal na Amazônia
* Ecio Rodrigues
O produtor rural amazônida, quer esteja localizado no interior do ecossistema florestal, ou disperso ao longo da imensa rede de milhares de quilômetros de ramais que cortam a região, convive com um permanente processo de produção, agropecuária e florestal (ou extrativista), no qual as características principais são: primitivismo tecnológico; baixos índices de produtividade e elevado grau de degradação ambiental.
Uma realidade que atravessa os anos, as décadas e, em alguns casos, como o da extração de borracha, por exemplo, os séculos. A sensação que impera é de que como é assim há tanto tempo, tudo indica que é porque deve ser assim mesmo. Mas não é. Isso tem jeito.
Autoridades públicas se acostumaram com essa realidade de tal forma que não se incomodam mais com ela. A contradição que se repete é que a desgraça do produtor rural é sempre lembrada em períodos eleitorais, nos quais sua realidade, que não se altera, justifica a eleição dos que, por sua vez, se conformaram com a permanência daquela realidade, pois acham que não tem jeito.
Os atores sociais por seu turno, articulam reuniões e reivindicações que não surtiram efeitos no tripé da tecnologia arcaica, da pior produtividade do país e do exacerbado custo ambiental. No final das contas a grita geral sempre recai sobre a falta de trafegabilidade dos ramais na época das chuvas.
A pavimentação das vias, no caso os ramais uma vez que as rodovias principais, em sua maioria, em toda Amazônia, estão pavimentadas, une, como tábua de salvação, autoridades e produtores para ter início uma ladainha que somente tem fim quando o asfalto sai, mas o tripé permanece e a realidade não muda. Apesar das pessoas com todo direito, a partir do asfalto, sonharem com um carrinho.
Uma conclusão óbvia. Somente o investimento em tecnologia poderá alterar essa triste realidade da produção agropecuária e florestal amazônica. Essa afirmação, do gargalo tecnológico, deve ter sido feita por várias pessoas e arrasta em si uma armadilha por demais perigosa: a do tempo.
Acontece que para os desavisados quando se fala em investir em tecnologia, significa que muitas pesquisas terão que ser realizadas, que pesquisas demoram para dar resultados, enfim, pode esperar sentado e, enquanto isso, melhor brigar por asfalto mesmo e continuar desmatando.
Nada disso tem cabimento. Muito embora ainda existam algumas boas respostas para serem obtidas, as instituições envolvidas com a pesquisa florestal, como a Embrapa, por exemplo, resolveu a imensa maioria dos gargalos tecnológicos para elevar o padrão de produtividade e de produção de um leque grande de produtos florestais como a castanha-do-brasil, borracha e copaíba, entre outros.
Com relação a madeira nem se fala. Existe tecnologia para produção madeireira em qualquer escala, do pequeno ao grande produtor. Por sinal, com relação a madeira, não há mais muito espaço para inovação a não ser na área de industrialização. No que se refere ao que se deve fazer, no interior da floresta, para retirar madeira sem comprometimentos ambientais e sociais, já foi resolvido.
Fazer com que essas tecnologias cheguem ao produtor florestal é o papel dos extensionistas. No entanto, estruturar órgãos de extensão que se dediquem exclusivamente à extensão florestal é papel dos governos.
Muito embora a discussão eleitoral, aquela de palanque, sempre enalteça a existência de uma riqueza florestal inesgotável e fruto da cobiça internacional, no momento do investimento público a extensão florestal não é prioridade. Vai entender.
E nisso, sem exceção, todos os governos da Amazônia concordam: extensão florestal não tem a menor serventia.

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

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